Faces do Jornalismo Econômico (*)
por Alberto Dines para o Observatório da Imprensa
Comprem, comprem, comprem – quem ganha é Miami. Desde que a Globo mergulhou de corpo e alma no espírito da Nova Classe C – a Classe Globo –, passeios ocasionais pelos telejornais da rede tornaram-se excelentes oportunidades para entender este neojornalismo informal, familiar, gracioso que se desenvolve ao longo do dia nas telas da Platinada.

Ao vivo, em rede nacional, porque a Globo não brinca em serviço: nos principais shoppings do país, as repórteres eram sucessivamente acionadas pelo âncora na bancada para entrevistar consumidoras, animá-las a gastar mais e, instigadas, até serviam como garotas-propaganda revelando o que compraram ou queriam comprar.
Ninguém se lembrou das diretrizes editoriais recentemente promulgadas nem do rígido Padrão Globo de Qualidade. O importante era manter rolando a bola de neve do consumo. Mesmo sabendo que a gastança de classe média brasileira na verdade está dirigida para as ofertas do paraíso comprista americano, conforme revelação dias antes do Wall Street Journal.
Receita do milagre
Quem está enchendo os 52 voos semanais da American Airlines que partem de cinco cidades brasileiras para Miami não é a Classe Globo. Esta faz percursos mais longos, cansativos e muito mais baratos, com escalas em Lima e Panamá, e não se hospeda em Miami – sai mais em conta ficar a uma ou duas horas de distância comprando nos outlets da periferia. No New York Times de quarta-feira (28/12), mais detalhes da febre consumista tupiniquim fabricada pelo real forte, o crédito fácil e os preços convidativos do comércio americano.

Os milagres econômicos alemão e japonês do pós-guerra não foram construídos pelo consumo, ao contrário, foram fruto da poupança. Isso, porém, não pode ser dito no Jornal Nacional, muito menos no Bom Dia, Brasil. Talvez só no Jornal da Globo. Enquanto William Waack lá estiver.
(*) Texto originalmente publicado em http://www.observatoriodaimprensa.com.br
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