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O egojornalismo

Texto de Vandré Abreu para o Observatório da Imprensa

"O jornalismo tem uma especificidade pouco vista de forma tão aparente (e, por isso, bizarra) em outras profissões. O culto ao ego, ao profissional, é intenso. É o único caso em que a assinatura de uma matéria é tão somente algo egocêntrico, e não de responsabilidade. Nas demais profissões, no mínimo, essa relação é um misto das duas coisas. Isso é fácil comprovar: o jornalista não pode ser, legalmente, responsabilizado sozinho por aquilo que fala ou escreve em determinado veículo. Porque a empresa vai sempre junto. É aquele também que pode arrumar desculpa para qualquer coisa e usa esses artefatos com primazia.

O maior exemplo é nesse caso de não ter responsabilidade porque é aquilo: o jornalista nunca erra. Se um texto tem qualquer deslize, seja de ordem gramática ou ortográfica, ele põe a culpa no editor ou em algum revisor. Se o caso foi de informação, também, ou culpa a falta de estrutura do jornal em que trabalha ou da fonte que lhe passou os dados. A frase já vem pronta: “Não sei, mas foi isso aí que a pessoa me passou.” Ou seja, o nomezinho junto da matéria só lhe serve em caso de elogio – que são sempre raríssimos, diga-se de passagem – ou para que o familiar pouco informado da profissão se sinta orgulhoso.

Na hora do vamos ver, do debate, poucos são os jornalistas que dão a cara a tapa e assumem certa incompetência. O que mais se vê é aquilo mesmo de que meu texto é melhor que o seu, minha matéria é melhor que a sua e conseguimos “bater” na concorrência. Em Goiás, isso é bem aflorado, ainda mais quando não se trabalha na Organização Jaime Câmara (OJC) – maior veículo de comunicação do Estado – e se consegue, na sua própria avaliação, fazer algo melhor do que ela. A bizarrice é tão grande que a felicidade dos jornalistas é ainda maior quando conseguem fazer algo idêntico ou parecido com a OJC. Se igualar é como dar um tapa na cara por nunca ter ido para algum de seus veículos ou ter sido dispensado, demitido, enfim".

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